
Bitcoin não é cripto
Num mundo onde os ativos digitais são cada vez mais prevalentes, é necessário fazer uma distinção entre Bitcoin e aquilo que muitas vezes é referido como “crypto”. Apesar de existirem milhares de criptomoedas e iniciativas blockchain, apenas Bitcoin verdadeiramente importa. O resto (NFTs, Web3, DeFi, etc.), coletivamente referido como cripto, enfrenta desafios significativos. Estes desafios vêm da sua estrutura e incentivos pouco claros, o que levanta preocupações acerca da confiança e do seu valor, muitas vezes associados a promessas que não cumprem.
Estas tecnologias e projetos não resolvem problemas genuínos. Ao invés disso criam problemas artificiais para justificar a sua existência. De facto, muitos indivíduos e empresas envolvidas nestes projetos e que os promovem têm muitas vezes acesso a tokens pré-minerados de antemão, o que lhes dá um grande incentivo para recrutar novos compradores, independentemente da utilidade ou do valor desses tokens. Para além disso, esses projetos estão longe de ser descentralizados como afirmam ser. Na grande maioria, os criadores destas criptomoedas ou protocolos têm capacidade de mudar as regras quando quiserem, de forma unilateral e por qualquer razão, o que compromete qualquer pretensão de verdadeira descentralização, credibilidade e imutabilidade.
Por outro lado, estes projetos podem e são facilmente copiados, pois o código fonte é open-source. Os novos tokens são muitas vezes tecnicamente indistinguíveis dos originais, o que logicamente permite concluir que a disparidade no preço de mercado vem de manipulação, campanhas de marketing e sentimento e não do valor ou utilidade dos tokens.
A enorme volatilidade e os rápidos retornos esporádicos são a única razão pela qual as pessoas mostram interesse nestes projetos de pequena dimensão, dado que a vertente tecnológica, inovação e a liquidez não estão presentes. Estas promessas são impulsionadas por muito marketing e os retornos e as perdas são multiplicados por uma enorme quantidade de alavancagem irresponsável, que muitas vezes levam a que esses tokens percam o seu valor de mercado na totalidade.
No mundo “cripto” os líderes destes projetos fazem promessas que não podem cumprir e aproveitam-se da ganância e ingenuidade dos investidores mais pequenos para gerarem os seus lucros. Pelo contrário, aqueles que tiram tempo para estudar e perceber como e porque é que a Bitcoin verdadeiramente funciona, conseguem facilmente compreender as falhas gigantes inerentes à grande maioria dos projetos blockchain.
Pelo contrário, a Bitcoin distingue-se porque não existe uma autoridade central. A Bitcoin não tem nem precisa de uma fundação para coordenar a sua manutenção ou desenvolvimento. As pessoas envolvidas (programadores, miners e utilizadores) não têm privilégios especiais e não existe uma equipa de marketing. O projeto Bitcoin Core é uma meritocracia. Os interessados em contribuir começam do zero e vão ganhando reputação na medida da qualidade das suas contribuições.
De facto, ao longo do tempo a Bitcoin tem feito exatamente aquilo que promete: ser dinheiro escasso, incensurável e inconfiscável. É exatamente por isso que Bitcoin tem credibilidade e os outros projetos “cripto” não.
A principal propriedade da Bitcoin é a sua descentralização. Não existe nenhum ponto de falha única e a rede é controlada a partir do consenso de uma comunidade de utilizadores que estão dispostos a correr um node. Ao longo do tempo temos visto pessoas a procurar copiar o código para lançar os seus próprios projetos, mas a não serem capazes de copiar a descentralização. A descentralização é uma propriedade da rede, e não do código.
Por outro lado, a Bitcoin é uma nova forma de dinheiro, que não tenta reconstruir a Web, o mundo financeiro ou a arte. Desde o início a Bitcoin tem sido melhor dinheiro, porque é digital, descentralizada e absolutamente escassa. De facto, a única rede que não requer confiança em ninguém é a Bitcoin.
A Bitcoin não é um esquema para enriquecer rápido. Trata-se de uma tecnologia disruptiva que permite preservar o valor que já foi criado. A Bitcoin foi criada especificamente para resolver um problema com o dinheiro fiduciário: criar um sistema de dinheiro digital onde não é preciso confiar em terceiro ou numa autoridade central.
Deste modo, a Bitcoin (token / moeda) e a sua blockchain são interdependentes. Uma não consegue existir sem a outra. A Bitcoin precisa da blockchain para funcionar, e não haveria uma blockchain funcional sem uma moeda nativa para incentivar a apropriada alocação de recursos que proteja a blockchain de forma adequada. Assim, a moeda nativa da blockchain deve ser ela própria uma forma de dinheiro viável, pois é ela que paga a segurança. Por isso, para a moeda ser viável tem que ter propriedades monetárias credíveis.
Sem dinheiro não há segurança, e sem segurança o valor da moeda e a integridade dos dados armazenados na blockchain desaparecem. A blockchain só tem uma utilidade: remover a necessidade de confiar em terceiros. Quem não tiver este problema para resolver não precisa de uma blockchain. Assim, a blockchain só é útil quando aplicada a dinheiro.
Apesar de parecer ser possível blockchain ser capaz de registar a posse de outros ativos fora da rede, na verdade, apenas é possível impor a posse da moeda que é nativa à rede. Assim, a imutabilidade não é uma característica inerente da blockchain, mas sim uma propriedade emergente. E se a blockchain não for imutável, a moeda nativa nunca será uma forma de dinheiro viável porque não é possível confiar na transferência e liquidação final.
Com o tempo, o mercado e a liquidez consolidam à volta da forma de dinheiro que oferece mais segurança e mostra ser uma reserva de valor ao longo do tempo. Seria irracional armazenar riqueza num dinheiro menos líquido e seguro, quando uma alternativa melhor existe e está acessível. Por isso, valor continua a consolidar à volta da Bitcoin porque é a blockchain mais segura por várias ordens de magnitude. Em última instância, apenas uma blockchain será viável e necessária.
Compreender estes conceitos é fundamental e permite considerar e avaliar a Bitcoin para além do ruído do mundo “cripto”. Deste modo, a Bitcoin continua a ser a única inovação no que toca a dinheiro digital, sem cair nas armadilhas que assolam o ecossistema “cripto” mas amplo.